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Postado 19/01/2016 às 19:09:20 por Farmacêutico | GV Consultoria Farmacêutica
Gravidez, vírus zika e microcefalia
Tire suas dúvidas.

Conversamos com um infectologista e com uma obstetra para entender como mulheres grávidas, ou que pretendem engravidar, podem se proteger da epidemia do vírus zika Grávidas e tentantes talvez sejam o grupo mais alarmado pelo aumento de infectados pelo vírus zika, no Nordeste, e a relação entre ele e casos de microcefalia em bebês. Os últimos números, divulgados nesta terça (24) pelo Ministério da Saúde, mostram que há 739 casos suspeitos de microcefalia no país, distribuídos em 160 cidades, e a principal suspeita é que o vírus zika esteja por trás disso. Por enquanto, o estado de Pernambuco é o que registra o maior número de casos, 268, mas em outros 17 estados (Roraima, Pará, Amazonas, Rondônia, Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Mato Grosso e Paraná) também tiveram confirmação laboratorial da presença do vírus. Para ajudar você, conversamos com especialistas para elaborar um tira-dúvidas sobre o assunto. Confira:

O que é microcefalia e como é feito o diagnóstico?

Por definição, o que se chama de microcefalia é quando a cabeça tem um tamanho menor do que o esperado para a idade do bebê. Além dessa redução, a microcefalia pode também estar associada a outras características, como uma fronte mais achatada e excesso de pele na nuca. Quando é detectado, por meio do ultrassom, que a medida da cabeça do bebê não corresponde à idade gestacional, tem início toda uma investigação complementar para identificar a causa, com exames como ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética, por meio dos quais é possível ver se há alterações inflamatórias, nos tecidos cerebrais ou hemorragias.

E o que pode causar a microcefalia?

A diminuição do tamanho da cabeça está diretamente relacionada a uma redução do tamanho do cérebro. Isso pode acontecer tanto por causa de uma má-formação proveniente de uma alteração genética ou por interferências no desenvolvimento cerebral, seja de substância tóxicas, seja de infecções. Vírus, como o da toxoplasmose, da herpes e também o citomegalovírus, podem levar a esses ruídos do desenvolvimento cerebral, tendo a microcefalia como consequência. Talvez, o zika também possa. Quais são as consequências da microcefalia? Depois do diagnóstico, alguma coisa pode ser feita? Essa diminuição do cérebro pode ter como resultado uma série de defici- ências neurológicas, tanto cognitivas, como motoras. Cerca de 90% dos casos estão associados com retardo mental. A má notícia é que não é possível reverter a microcefalia. “Como ela é consequência de uma alteração no desenvolvimento cerebral, quando você identifica a microcefalia é porque o dano já aconteceu”, explica a obstetra Ana Elisa Baiõa, gerente da Área de Atenção Clínico-Cirúrgica à Gestante do Instituto Fernandes Figueira (IFF/ Fiocruz), do Rio de Janeiro (RJ). Por que o vírus zika teria relação com a microcefalia e o desenvolvimento do cérebro? Lembra que algumas coisas podem interferir no desenvolvimento cerebral, entre elas as infecções? Pois é aí que o vírus da zika entra. “Até o momento não existe uma prova científica sólida de que haja uma relação causal. Existe uma suspeita, mas não uma prova real”, explica Ana Elisa. Ou seja, por enquanto, o zika é apontado como a causa mais provável da microcefalia, mas ainda não há confirmação.

Quais são os sintomas da zika?

Eles são parecidos com os da dengue, mas geralmente se apresentam de forma mais branda. A pessoa afetada pode apresentar ou não: febre, dores nas articulações, manchas vermelhas pelo corpo, coceira e olhos vermelhos. Esses sintomas podem desaparecer em um prazo de 3 a 7 dias. Vale lembrar que a doença se manifesta da mesma forma tanto para mulheres grávidas quanto para não grávidas. Outro ponto importante é que é possível contrair o vírus e não apresentar nenhum sintoma. Em exames realizados com grávidas cujos bebês foram diagnosticados com microcefalia, o vírus não estava presente no sangue: ele foi encontrado apenas no líquido amniótico. Isso pode sinalizar duas coisas: a primeira é que, assim como acontece com outros vírus, o zika pode ser destruído pelo organismo. A segunda sugere que o vírus pode, sim, afetar diretamente os bebê ainda dentro do útero. “Ao contrário do que acontece com o vírus da dengue, o zika consegue passar pela barreira placentária, que é formada por vasos da mãe e do bebê”, explica o infectologista Jean Gorinchteyn, do Emílio Ribas (SP). Ou seja, apesar de os sintomas da zika serem mais brandos que os da dengue, ele pode afetar mais diretamente o bebê. “Na mulher grávida, a dengue provoca alterações na mãe, mas não atua diretamente no filho – tanto é que mães com dengue podem continuar amamentando”, completa o infectologista.

Como acontece essa transmissão?

A transmissão do zika se dá através da picada do mosquito Aedes aegypti, da mesma forma que acontece com a dengue. O problema é que o vírus da zika nunca se propagou em um país tão populoso como o Brasil. Os casos endêmicos estavam concentrados em lugares mais isolados na África e no sudeste da Ásia, e os especialistas acreditam que o vírus pode ter chegado por aqui durante a Copa do Mundo. Se uma pessoa infectada com zika for picada pelo mosquito, este passará a transmitir a doença para as próximas pessoas que picar. É por isso que existe chance de a doença se espalhar por outras regiões do Brasil.

Como as grávidas podem se proteger?

Ainda não há vacina contra o zica. Mulheres grávidas e não grávidas podem se proteger do mosquito da mesma forma: utilizando roupas para proteger a pele, evitando a picada e aplicando repelente nas áreas que ficam expostas. Roupas claras ofuscam a presença do mosquito, por brilharem muito, e favorecem a visualização do inseto. Ao que tudo indica, a melhor saída até agora é combater os focos do mosquito.

Que tipos de repelentes as grávidas podem usar?

Repelentes que contêm DEET (dietiltoluamida), com concentração entre 10% e 50%, podem ser utilizados por grávidas. Já as crianças de 6 meses a 12 anos não devem usar repelentes com concentração de DEET superior a 10%. Os que contêm ircaridina também estão liberados para gestantes e para bebês acima de 2 anos. Também há op- ções de repelentes naturais, como a citronela e a andiroba, que não têm contraindicações, mas não possuem eficácia comprovada.

E as mulheres que estão tentando engravidar, é melhor desistir dos planos por enquanto?

“As mulheres que vivem em áreas endêmicas devem hesitar em engravidar nesse momento até que as medidas sejam tomadas no sentido de reduzir o número de mosquitos. Já as mulheres grávidas nessas áreas devem tomar as providências para se protegerem ao máximo da picada do mosquito”, recomenda Gorinchteyn. Por cautela, pelo menos por enquanto, também é melhor que as grávidas que estejam com passagens marcadas para áreas endêmicas desmarquem a viagem.